Desenvolvimento de uma ideia a partir de um problema real

O processo de geração de ideias para criar novos negócios sempre foi uma incógnita. Afinal, é possível estruturar uma nova empresa a partir de ideias que vem à nossa cabeça?

Todos sabem que criar uma startup é algo que nos enche de energia e nos motiva para tirar a ideia do papel, mas existe um exercício fundamental que precisa ser feito antes de dar os primeiros passos na sua construção.

O exercício mais importante, a meu ver, é fazer um trabalho de validação inicial que evita de investirmos tempo e energia em algo que, se analisado um pouco mais a fundo, apresenta “falhas de concepção”. Isso porque é natural que ao ter uma ideia a pessoa acredite que ela é perfeita e tem tudo para dar certo, mas é importante avaliar uma questão principal e fundamental: essa ideia resolve um problema real?

Precisamos sempre avaliar se existe um “problema” por trás do que está sendo proposto. Não adianta ter uma ideia se ela não resolve um problema real, algo que realmente incomode as pessoas.

Em seguida é preciso entender como as pessoas resolvem esse problema atualmente. É nessa parte que as “ideias” costumam morrer porque se verifica que as pessoas estão satisfeitas com a maneira como resolvem seu problema e a nova solução não traz um benefício suficiente que as faria trocar. Em outras palavras, apenas “mais do mesmo”.

Nesse momento é importante compreender que não estamos avaliando se o produto é igual ou diferente ao que já existe no mercado. O que se está avaliando é como o consumidor atual resolve o problema existente, independente de que tipo de solução ele use para isso. Se eu “estou com sede” eu posso resolver meu problema tomando água, tomando leite, tomando chá, tomando um refrigerante. Note que não são os mesmos produtos, mas todos resolvem o mesmo problema.

Outra forma de pensar: se você está com frio você pode colocar mais roupas ou então ligar o aquecedor. Ambas alternativas resolvem o problema, mesmo que tenham um modo completamente diferente de fazer isso.

Por outro lado, pense nos carregadores portáteis de celular. Não existe uma grande inovação nesse sentido porque baterias já existem há muito tempo, mas o ato de transformá-las em acessórios menores acabou com a dependência das tomadas para carregar nossos celulares. Ou seja, aquele canto da sala de reuniões que era sempre disputado por ter uma tomada agora não é mais necessário.

Note que existe um fator de timing também muito importante. Há 10 anos atrás os carregadores portáteis não teriam a grande utilidade que tem atualmente porque nossos celulares eram bem mais simples e não necessitavam carregar mais de uma vez por dia. Tablets, por exemplo, sequer existiam.

Ou seja, a partir do momento que surge um problema real (preciso carregar de maneira mais fácil meu celular que fica sem bateria 2x por dia) existe uma oportunidade gigantesca de criar um produto/serviço matador. Isso é resolver um problema! Essa é uma forma de entender uma dor do usuário (“preciso carregar meu celular, mas não posso ficar sem ele por todo esse tempo”) e validar uma solução que até então não existe.

Tudo isso parece muito lógico, mas é comum os empreendedores se apaixonarem por suas ideias e não darem valor para a real necessidade que elas terão no mercado. Além disso, quando o empreendedor está apaixonado pela sua ideia ele tende a diminuir o potencial das soluções já existentes em resolver a dor do cliente. No final das contas eles querem que os problemas se enquadrem na sua nova solução, e não o contrário.

Por essa razão é preciso ser mais cuidadoso no momento de avaliar suas ideias e fazer esse processo de validação antes de dar sequência nas ações. Não tem problema nenhum imaginar novos produtos ou soluções, mas faz muito mais sentido conceber essas ideias olhando para o mercado e entendendo qual é o “problema” que atualmente não possui solução e poderia ser resolvido pela sua startup.

 

*Rafael Zanatta, formado em Administração de Empresas pela UFRGS, especialista em Branding and Business pela Univates. É integrante de iniciativas como o Pro_Move Lajeado e Inova RS. Atualmente é Head do Hub de Inovação Vibee Unimed, com objetivo de acelerar startups do setor de saúde. www.rafaelzanatta.com.br Redes: Instagram | Linkedin

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